O doce vagabundo, um espírito lírico oprimido no mundo do dinheiro e da 
violência, tinha o triunfo de não precisar falar - sua agilidade e 
esperteza compensando a mudez e a comovedora miséria. Quando os diálogos
 chegaram as telas, não faria sentido submeter Carlitos a mais essa 
imposição dos tempos modernos. E Chaplin, seu criador, decidiu tira-lo de 
cena, mudo como entrou , num filme que ironizava numa barafunda sonora de 
engrenagens e vozes indistintas a era da pressa, avidez e crise econômica
 e social, além de resumir os melhores recursos que o personagem exibira
 desde a estréia em 1.914.
"Tempos Modernos" foi recebido com 
desconfiança quando estreou,em 05 de fevereiro de 1.936, em Nova 
Iorque, cinco anos depois do filme anterior de Chaplin, "Luzes da 
Cidade". Acharam a mudez um atraso, as piadas requentadas e a 
crítica, uma perigosa inclinação para a esquerda. A famosa cena em que 
Carlitos pega uma bandeira famosa vermelha caída de um caminhão e é 
equivocadamente seguido, como um líder, por uma multidão de operários, foi
 vista como atestado comunista, não como uma ironia sobre a credulicidade
 das massas num período de grande recessão. A briga de Carlitos com a 
robotização de uma linha de montagem, pareceu uma estapafúrdia oposição 
ao progresso. As deliciosas trapalhadas na fabrica, numa loja de 
departamentos, num restaurante, na prisão e o romance com a encantadora 
moça interpretada por Paulette Goddard outra excluída e perseguida, não 
amenizaram muito a rejeição.
Depois de "Tempos Modernos ",abandonando o 
personagem, Chaplin filmaria "O Grande Ditador" (1.942), "Luzes da 
Ribalta" (1.952),"Um Rei em Nova Iork" (1.966). Mas essa segunda fase é 
tida como inferior á primeira, que criou a mais legendária figura da 
história do cinema - o adorável Carlitos. Filmado durante quatro anos, 
"Tempos Modernos" é hoje considerado uma obra prima, retrato genial de 
uma época e o adeus perfeito para o magnífico Carlitos, mas na época de 
pouco adiantou, Chaplin declarar que seu "objetivo principal" era 
divertir. O filme foi proibido na Alemanha nazista e a reputação que deu a
 Chaplin o levaria ao exílio na Europa durante á caça ás bruxas do 
período macartista.
Em 1.952 ele se mudaria com a família para a 
Suíça. Depois de mais de 40 anos nos Estados Unidos, só voltando a 
América em 1.972, quando Hollywood se dobrou ao mito imortal de Carlitos e
 concedeu a Chaplin um Oscar Especial. Recebeu o prêmio e retornou á 
Europa, onde morreria cinco anos depois, dormindo.




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