A série de Mafalda tem sido comparada com as dos Peanuts, de Charles
Schulz. Seus personagens: (Mafalda, Susanita, Felipe, Manolito,
Miguelito, Libertad, Guile ), encontraram correspondência temática nos
personagens mais conhecidos dos Peanuts: (Charlie Brown, Snoopy, Lucy,
Linus, Schroeder e outros). Mas esta correspondência é muito precária, a
não ser numa fase inicial das tiras de Quino, se bem que o Felipe, em sua
eterna angústia e timidez, tenha um pouco de Charlie Brown e um pouco de
Snoopy. Mas as diferenças entre as duas criações são muitas, ou cada vez
mais maiores: uma ( a Mafalda) se marca pela policidade; a outra pela
existencialidade. A poesia que envolve as duas também vai envolver
muitas produções elaboradas pelos quadrinhos: seja a poesia gráfica de
Valentina ou a Saga de Xam, seja a poesia temática do Little Nemo ou do
Krazy Cat, seja a poesia mágica de Brucutu ou do Bronco Piller, seja a
poesia social do Ferdinando ou do Pogo.
Oscar Steinberger apontou com
precisão as diferenças: nos Peanuts, haveria tragédia - na Mafalda, alusão á
tragédia; nos Peanuts, uma condição neurótica que escamoteia a percepção
do real - na Mafalda, uma visão racional da história; nos Peanuts,uma
predominancia de personagens sem lucidez - na Mafalda, uma concreção de
idéias que diminuem a distância entre o pensamento e a emoção.
Steinberger, todavia,cometeu dois equívocos: situa a Mafalda como uma "
Humanista atualizada " sem precisar o seu conceito; considera a
realização de Quino, menos quadrinizante do que os citados Peanuts, já
que, para ele, seria uma formação entre os quadrinhos e os cartuns.
Ora, ver-se-á, que uma leitura comparativa voltada para Mafalda e para
os Peanuts, os Tumbleweeeds ( de Tom K. Ryan ), Andy Capp ( de Reg
Smithe ), Doonesbury ( de G.B.. Trudeau) B.C. ( de Johnny Hart), The
Droputs (de Howard Post), revelará a exemplar narratividade da tira
argentina justamente em termos de quadrinhos. Uma narratividade que, por
sua força expressional se destaca sobre os demais.
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